Tens poesia na metade direita do coracão e amor na metade esquerda. Tenho-te a ti a circular nas duas metades de mim. Porque a poesia e o amor estão atrás da minha orelha. R*

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Um pacto de lábios


Lembro-me da primeira vez que falas.te. Uma voz tão perfeita, uma gargalhada tão doce como estares aqui, uma brincadeira desde a uma, duas, três... a noite era só nossa. O teu jeito bom de sussurar palavras que se encontravam unidas pela distância de duas vozes sozinhas pelo tempo. Tu sempre estives-te ao meu lado nas noites frias pela neve, só tu e eu, aquecendo lágrimas e solidão.
Quando dei por mim, sentia  estranho sensação de não querer ninguém, feminino, ao teu lado. Queria que estivesses só para mim, e para mim nascesses outra vez, ou melhor, renascesses das cinzas da antiga dor que ela te marcou. Eu juro que não tinha planeado, eu juro que não queria, mas mentiria se jurasse que agora também não queria, quando tremo com borboletas no estomago ao olhar para ti. Realmente há vida dentro de ti, e as minhas borboletas querem voar contra tempos de mudança, contigo.
Disses.te que não! E o teu não está garantido. E sei que não me amas, mas sei que me queres. Queres-me ao teu lado como eu te quero a ti, queres carinho meu quando não estamos aqui, queres... o que eu quero mas doseado em escala pequena. E eu quero sonhar alto, sim, quero sonhar como há um ano atrás, em que o gelo derreteu com um bafo de uma só palavra. Eu amo-te. Nunca pensei em te pedir desculpa. Mas peço agora e com a voz controlada: Desculpa o dia em que te amei! Já tentei pedir desculpa a mim mesma pela forma como me tenho tratado. Mas vou continuar a pensar que borboletas fazem casulos e nascem mais vistosas, fortes e diferentes.
Ontem errei. E sinto-me tão frágil. Eu disse que não, e que sabia que não podia esperar nada de ti, mas é mentira, é a minha maior mentira. Eu fui. Eu saí com um sorriso nos lábios. O coração grande a receber calafrios ao som do cravar dos saltos altos na calçada. Ali estavas tu. O meu e só meu casulo de borboletas que tentavam escapar para a tua boca. Entrei, com pés de lã, esforçando-me para fazer o mínimo de barulho. Nada podia falhar. Nada. Mas logo ali eu soube, o trocar de dois beijos na face seria o ínicio da minha dor. Entrei em desepero por dentro, só queria ir ao espaço e vir, numa ida de oito minutos e meio. Afinal por ti não ia ao espaço, o tempo é frágil e curto, a minha vida por ti é bem maior. Beijaste-me. Beijaste-me outra vez. E outra e outra e outra. Não queria pensar, eu ali, não podia pensar. E agora sei que o meu maior erro foi não pensar. Porque um dia, dois dias e um ano, eu ainda te amo.

Ele despediu-se com um beijo na testa, dizendo:
- Avisa-me quando chegares.
Ela virou-se para não chorar de frente e desde então, sofre devagarinho com medo de falar, porque há sempre um " não te quero ver sofrer". Sentou-se, colocou a mudança e o carro foi a baixo. As pernas tremiam de medo. E o resto do caminho foi embalado pelas lembraças.
Ela ama, ele gosta de atração. Ela diz sempre, ele diz não.
Uma e vinte e três nos teus braços.

3 comentários:

  1. revi-me integralmente neste texto. juro que pareceria ter sido escrito para mim... enfim, lindo texto como sempre!

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  2. Lindo!
    Amei este completamente. Parabéns :]

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  3. Como viver com respostas pela metade, quando o que se quer realmente é expressar o próprio amor com toda sua beleza e intensidade? algo tão especial não pode ficar apertado, guardado, exprimido.. o amor é de cada um, e o outro apenas uma ilusão que criamos para colocar em pratica nosso desejo de amar.

    Legal o seu blog! Felicidades!

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